sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A Primeira Ultramaratona


Ultramaratona Internacional do Atlântico – Guarujá
18/09/2015


Minha primeira Ultramaratona, ainda me lembro do momento exato em que vi na tela do PC a imagem da prova 48 HORAS INTERNACIONAL DO ATLÂNTICO no Guarujá, e entre aspas estava escrito: “simplesmente brutal” hehe
Aquilo me chamou a atenção imediatamente, tinha as modalidades de 6, 12, 24 e 48h respectivamente. Lembro que me veio a cabeça todas as provas de rua que já tinha corrido até então, a maioria praticamente nos mesmos lugares, mesmos percursos, horários,...estava entediado dessa repetição , mas também lembrei que o máximo que havia corrido eram 21kms, isso mesmo, sem sequer uma maratona eu tinha experimentado, kkkk, que louco, ainda assim senti  que eu poderia encarar o desafio e fiz a inscrição para correr 6 horas.
Li o regulamento como de costume e vi que a largada seria as 10:00h da manhã, em pleno verão, em pleno Guarujá, em plena avenida Beira Mar...lembrei da frase “simplesmente brutal”...
Bom, agora era começar a treinar, eu vinha de um período conturbado pois havia ficado aproximadamente 1 ano praticamente parado devido a um diagnóstico errôneo de hérnia de disco que medicamento ou repouso ou acumpultura ou fisioterapia amenizava, muito pelo contrário, já não conseguia nem dormir por causa das dores, prestes a marcar uma cirurgia que seria totalmente desnecessária, aí eu tive a sorte de poder mostrar todos os meus exames para um médico amigo que é hematologista, quando relatei  todos os meus sintomas ele praticamente descartou a hérnia de disco, disse que provavelmente eu tinha uma tal de “espondilite anquilosante” , doença autoimune que afeta a coluna e uma infinidade de outras partes do nosso corpicho...fiz o exame específico que ele pediu e Bingo, deu positivo. Reumatologista e  injeções quinzenais de medicamento biológico, comecei o tratamento correto e então pude voltar a manter atividades físicas, pude voltar a treinar.
Voltando a Ultramaratona, eu tinha uns 5 meses para me preparar, ou seja, tinha que treinar e treinar e treinar...além de treinar...kkkk....e assim eu fiz. As semanas foram passando e eu treinando, tentando aumentar as minhas rodagens de fim de semana, mas confesso que não conseguia passar de 20 e poucos kms sem começar a cair pedaços do meu corpo e da minha alma pelo caminho...tava foda...rodava todos os dias entre 10  e 15kms descansava no sábado e domingo planejava sempre correr mais de 30kms, só que nunca, sempre morria depois dos 20 e poucos kms, e o tempo passando e a prova se aproximando...medo...chegou  o penúltimo fim de semana antes da prova e eu falei comigo mesmo, desta vez eu passo dos 30k. Fui para o Pq. Ecológico do Tietê cedinho, estava nublado, cada volta no parque tem 9kms, planejei tudo, dou 3 voltas totalizando 27kms aí puxo mais 3k ou quantos eu aguentar, aí estarei no lucro...rsrsrs...completei a primeira suave, a segunda também tranquilo, abri a terceira volta e começou a chover, uma garoa bem gelada, e atipicamente já estava muito frio para a época, quando o GPS gritou 24 kms lembro que eu já estava penando, sofrendo mesmo, uma dor que subia dos pés até a lombar e para piorar percebi meus dedos das mãos roxos, as unhas roxas, não sou de sentir frio mas estava literalmente congelando, km 25, faltavam dois para completar a terceira volta, feito que também já era inédito pra mim, km 26...que quilometro longo meu Deus, já não conseguia pensar muito bem, apenas colocava um pé na frente do outro e esperava meu parceiro, o Sr. GPS falar comigo, dar um tapinha nas costas e me parabenizar por ao menos completar as 3 voltas, 30 kms??? Nem lembrava mais dessa meta, só sentia o frio, mas depois desse episódio algo aconteceu com o meu corpo em relação a sensação de frio, essa sensação praticamente desapareceu..rsrs...
E finalmente chegou o dia da prova, cheguei no Guarujá no dia anterior ao da minha largada junto com meu amigo Leandro, que viria a se tornar meu grande parceiro nas ultramaratonas, ao chegar na arena já começamos a sentir o clima da prova, comecei imediatamente a ter muita admiração por toda aquela galera que já estava rodando por horas e horas naquele percurso improvisado no asfalto, 250 metros indo e 250 metros voltando, totalizando 500 metros por volta, por alguma razão que até hoje desconheço, assim que cheguei ali e visualizei aqueles atletas rodando, se superando volta após volta, me bateu uma serenidade como se eu fosse fazer algo que já estava pronto para fazer, mesmo sabendo que os treinos foram tórridos e sem jamais atingir os objetivos. Foi simplesmente mágico.
Fomos para a pousada depois de comer uma pizza monstruosa e ajeitei as coisas para quando acordar não ter muito trabalho, mesmo com a largada sendo somente as 10h da manhã...dormi tranquilo.
As 9h saímos da pousada após um bom café da manhã , tinha mais alguns atletas hospedados  lá também, pudemos bater um bom papo com alguns.
Chegamos na arena, não tinha uma nuvem sequer no céu, Sol a pino, já sabíamos que seriam 6 horas escaldantes...só queria começar a correr. Finalmente os atletas que correriam a prova de 6 horas  foram chamados para alinhar a largada, havia chegado o momento que toda a loucura iria começar, não tinha nenhum plano ou estratégia na minha cabeça, pensei, vou correr enquanto eu aguentar e minhas pernas permitirem, quando não der para correr eu ando, mas nada nesse mundo vai me tirar dessa pista.
9:59h, um minuto para a largada e o termômetro já marcava 31º Graus, Deus tenha piedade de nós e de nossos tênis...kkkkk
Finalmente as 10:00h em ponto toca a buzina e é dada a largada, confesso que não estava nervoso, a vibe do atletas presentes era tão boa que fazia com que me sentisse a vontade, a partir daí tracei um plano simples, correr em um ritmo confortável para não me desgastar demais devido ao calor e quando não conseguisse correr eu caminharia forte, mas não sairia da pista em hipótese alguma, e enquanto fazia minha prova eu observava e absorvia tudo feito uma esponja, alguns caras já saíram num ritmo muito forte, tipo meu camarada Leandro, mas esse cidadão é um caso a parte, corre muito. A medida que a prova desenrolava o calor ía aumentando de forma absurda, lembro de ter visto o termômetro da rua volta de meio dia e meia e estava marcando incríveis 43ºC, isso para quem estava paradinho né? Imagina correndo naquele percurso de 500 metros...kkk...tava osso mas felizmente a organização planejou bem a prova, tinha uma ducha daquelas que ficam no calçadão da praia no meio do percurso e também uma caixa d´agua com água gelada e esponjas para os atletas se refrescarem um pouco, na boa, isso salvou a pele de muita gente, inclusive a minha...hehehe.
Nessa altura eu lembrei dos fracassos nos treinos, mas apesar do histórico ruim e da brutalidade da prova eu me sentia muito bem, eu tinha exorcizado esse demônio das 3 horas correndo. Chegamos a 4 horas de prova e eu alternava uma volta de trote e meia de caminhada forte, a essa altura muitos outros faziam a mesma coisa, e claro que ainda tinha aqueles cavalinhos que continuavam correndo sem parar, hoje em dia virei um desses cavalinhos também..rsrsr...chegando nas 5 horas de prova comecei a sentir um pouco de fadiga, então diminuí o trote, os pés e pernas já começavam a ficar pesados, e a água já não saciava mais a cede...já tinha ficado rabugento, tudo estava ruim...kkk...e por mais difícil que seja de acreditar, as horas passaram voando, depois desse estado temporário de rabugência surgiu a euforia, caramba mano, estava prestes a acabar aquela insanidade, e que insanidade boa, eu olhava para os outros corredores e sentia a alegria que eles também compartilhavam, só absorvia aquela incrível atmosfera carregada de energia positiva, e tinha atletas de todas as faixas etárias, dos 20 aos 90...um verdadeiro exemplo para muitos que só vivem por viver, por assim dizer.
Os últimos 5 minutos, o locutor da prova nos encorajava a dar o máximo com toda a alegria e entusiasmo que tínhamos, e assim completei a minha primeira ultramaratona, foi uma experiência ímpar em minha vida, cheguei a duvidar que conseguiria completar visto os treinos que fiz, mas como aprendi com o tempo, treino é treino e jogo é jogo.
Depois de alguns minutos de confraternização com os participantes saiu a lista com a quilometragem percorrida por todos em suas respectivas modalidades, conferi curioso pra caramba, pensei comigo mesmo: será que completei uma maratona? E o resultado foram 47kms, sim, eu consegui  superar todas as minhas expectativas e muito, hoje tenho plena consciência que essa quilometragem é baixa para uma prova de 6 horas, tanto que já consegui  percorrer 58kms em provas semelhantes, mas a época e dadas as condições, foi meu recorde mundial...kkkk....e enquanto eu estava sentado no calçadão a beira da pista da prova, olhando minhas panturrilhas que pareciam ter vida própria, acontecia a premiação dos atletas, masculino e feminino de todas as modalidades, das 6h as 48h, uma verdadeira festa, e para minha surpresa e felicidade, eis que chamam o meu nome na premiação por categoria, não tava nem ligado nessas divisões de premiação naquela época, e não é que fui o campeão da categoria? Primeira ultramaratona, primeiro pódio, me senti verdadeiramente realizado neste esporte que prático naquele fim de tarde escaldante no Guarujá. Só tenho a agradecer por tudo e todos que sempre estiveram do meu lado.

Não poderia deixar de agradecer a minha parceira na vida,
Stephanie Muriel que sempre me apoiou e aguentou e claro
incentivou-me nos momentos dificeis que não foram poucos
ao longo dessa jornada, e meu amigo irmão de Ultras, o pé
de vento Leandro Fernandes, acho que das 30 ultramaratonas
que corri ele esteve em 95% delas comigo, seja Solo ou em
Revezamentos. Temos muitas estórias pra contar...e tudo isso
começou em meados de 2012 quando começamos os
Corredores Sem Freio, grupo esse que só cresce e acrescenta
valores as nossas vidas.
Pioneiros: Ednaldo, Leandro, Ivanei, Carla, Madson e o Barba aqui.




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